Quis Pôr à Prova

Dois corpos, quase sempre em movimento,
Uma acção,
A espera da, consequente, reacção.

É, o acto de escrever, uma acção?
Qual é a intensidade da força da palavra?

Sem certezas, escrevi-te.
Leste?
És curioso.

Palavras de um só sentido;
Esse que, nesta lei, é fundamental:
Acção e reacção têm que ter sentidos opostos.

Não reagiste.
Não com a mesma intensidade.
Encarnaste em força centrífuga,
Só para me afastares do teu centro de gravitação?

Diminui a intensidade
(Não consigo mudar de sentido),
Esperando, de retorno, o equilíbrio.

Nem assim:
Não fui capaz de regular a minha força,
Para que, com a tua, se nivelasse.

Falhei?
Falhaste?
Segundo a terceira Lei de Newton: falhámos.

Coisas de uma vida


Oh, o quanto eu gostava de encontrar um sentido para a minha vida. Mas como hei-de eu fazê-lo se ainda não escolhi, sequer, a direcção?
Estou parada numa encruzilhada de caminhos que, de longe já vejo, não me levarão a lado nenhum. São falsas promessas, que cansam o corpo e esvaziam a alma.
Porque não posso tentar ser no sonho; ele que se vai perdendo, com a necessidade de fazer parte de um rebanho que olvida o caminho.
E é a ganância de uns, que vai matando o serei de outros. "Serei...". Serei o que eles me disserem que seja, em nome da sobrevivência.
Porque a mais pura das artes é fraca. Não tem ganância, nem inveja. É, por ser; é, por se fazer ver; é, por se fazer ouvir; é, por se fazer sentir. É, por viver.
Não posso ser no sonho; não: porque não me dá sequer para comer. E, então, viverei no pesadelo: de tentar ser aquilo em que nunca acreditei.

Morte Prematura


Já não sabe nada dela,
E não lhe importa saber.
Ao deixa-la para trás,
Deixou-se morrer.

Ela


Perdeu toda a fé:
No aqui, e agora;
No amanhã, e para sempre.
Resta o que teve:
No ontem, e no passado;
No acabou, e nada mais há a fazer.
E foi no que teve que a perdeu: a fé.
Por hábito de ter,
Tão preguiçosamente ter,
Perdeu – perdendo-se.
E leva consigo as sobras,
Por conta de um peso sem medida,
Para o lado nenhum, de uma parte que é inteira.
E implora,
A ninguém mais do que a si mesma,
Pela brilhante luz da redenção.
Dos Homens;
De Deus;
Do Diabo: pouco importa.

(No vazio, desse espaço de fé,
Não tem, sequer,
Diabo que a carregue.
Sozinha não vai.)

Porque não crê:
É infeliz.