Sou tudo o que
um dia nunca d’antes fui,
Fruto de números
perdidos na lotaria do tempo.
Sou tudo o que
um dia nunca d’antes foi falado,
Fruto de boatos
de um ser que não era.
Sou tudo o que
um dia nunca d’antes me foi almejado,
Fruto de
correntes que me aprisionaram a um bem-amado.
Sou tudo o que
um dia nunca d’antes me foi visto,
Fruto de escada
rolante de um só sentido.
A escada que me carregou
nos braços desde o ontem até ao hoje,
E que, a lado
algum, nunca mais me levará.
Não mais quero
sonhar.
Serei poeta.
Imortalizada
pela própria morte,
Irei por onde me
carregarem os versos.
E se ainda assim,
a lado algum, nunca me levarem,
Não deixarei de
ser o que um dia nunca d’ante fui.
Porque se hoje
sou tudo o que um dia nunca d’antes fui,
Amanhã serei
nada do que um dia d’antes pensei vir a ser.