Elogio ao teu novo amor


Hoje vi-te de longe e sorri. Sorri porque estás ainda mais bonito do que quando te deixei. Ela faz-te bem – aposto que te faz tão bem como eu te fazia. O amor tem destas coisas; deixa-nos tão leves, que o peso de qualquer réstia de feiura desvanece-se com a brisa que nos corre na face.
Fazem coisas maravilhosas, suponho – também nós o fizemos. O amor tem destas coisas; mudam-se os lugares mas, no fundo, os rituais serão sempre os mesmos – começam cheios de coragem e virilidade, e acabam com a vontade de que termine o mais breve possível porque já não se aguenta, sequer, olhar nos olhos do outro. É: o amor tem destas coisas.
Vi no teu olhar um brilho que já não via há muito tempo. Ela faz-te bem. Senti, naquele momento, que não houve mais nada que pudesse ter feito para restituir esse brilho que há muito não via. Custou, mas percebi que fui perdendo essa capacidade de te fazer sorrir com os olhos. Não mais o faço: fá-lo-á ela por mim – e, já vejo, fá-lo-á demasiado bem.
Agora, longe do lugar de onde te vi, tento imaginar o que te diria se tivéssemos passado mais perto. Nada. Havia tanto que gostava de te contar mas sei que nada ficou por dizer. Hoje é com ela que partilhas as tuas vivências. Deve fazê-lo bem melhor do que eu. Lembro-me de que sempre ouviste mais do que eu; sempre falaste melhor do que eu. Resta-me, então, ficar imensamente feliz por teres encontrado alguém menos egocêntrico do que eu: alguém com essa maravilhosa capacidade de (te) ouvir.
Hoje, escrevo estas linhas para fazer um elogio ao amor, àquele que vives agora – o que viveste comigo está hoje fechado numa caixa, dentro de um baú, no fundo do mar. Não imaginas o quanto gostava de encontrar um amor igual ao teu: um que me libertasse de todos os demónios – esses que não me largam nem por um segundo. Fizeste por o merecer – talvez eu ainda não o tenha feito – e, por isso mesmo, celebro o teu novo amor, bem como toda essa transformação que vejo em ti – vejo-te sorrir: agrada-me (guarda um para mim, por favor; um dia, dar-me-ás esse sorriso, sei que sim).
Não sei se já te disse mas quero ver-te feliz: sempre. O amor tem destas coisas. E eu? Eu não deixei de te amar – apesar de transformado, o meu amor por ti permanecerá para sempre dentro de mim. Hoje, o meu amor permite-me agradecer a essa mulher que te faz leve, que te faz melhor todos os dias, que te coloca mais perto do teu destino: a felicidade. Este amor que sinto permite-me, hoje, olhar para trás com carinho e ter esperança no futuro – ainda que, apesar de o meu futuro passar pelo teu passado, o meu passado já não mais faça parte do teu futuro.