Não: Era uma vez...

Era uma vez o “Era uma vez…”
Que nunca tinha sido contado vez nenhuma,
Aos meninos e meninas de um país:
Um país onde a terra é bruma.

O “Era uma vez…” sentiu-se por contar,
E num dia triste, à beira mar,
Decidiu ir à procura de quem,
Com menos sorte que tu, não tinha forma de o encontrar.

Caminhou e, pelo caminho, perguntou
Por esses meninos de uma tal cor
(Essa cor a que se chama amor),
Que nunca haviam ouvido as histórias desse apregoador.

Passou por todos os tipos de gente,
Mas nunca lhe deram a mínima importância,
Mais parecia gente demente,
Tal era a sua arrogância.

Sentiu-se, mais do que uma vez,
Querer desistir,
Mas graças à sua sensatez
Percebeu que muito ainda estaria por vir.

Foram tantos os meninos que viu,
Uns acenavam,
Outros nem lhe olhavam,
Mas, o “Era uma vez…”, para todos eles sorriu.

Eram de todas as cores e feitios,
E todos já o tinham visto passar,
Junto às suas janelas,
Na hora de irem sonhar.

Já no final do seu caminho
Encontrou um pequenino,
Estava deitado no chão, tinha vestes de trapo e sorriso de sol:
- Olá! Eu sou o “Era uma vez…” E tu? És um menino mongol?

O “Era uma vez…” sentou-se,
Deu o peito à cabeça do menino,
Passou um cobertor pelas costas,
E começou a falar-lhe bem baixinho.

E foi assim que foi contada,
Pela primeira vez,
A história do “Era uma vez…”,
A um menino que nunca a havia ouvido uma única vez.